É como se esse período estabelecesse uma permissiva cumplicidade, ao melhor estilo “se todo mundo faz, eu posso fazer também”, e o acontecimento capaz de comprovar minha tese se chama festa de encerramento da empresa. Pense bem. Existe alguma outra ocasião em que seja permitido beber até cair, dançar de forma patética, ser inconveniente, passar cantada no (a) colega e estar certo de que isso não afetará sua vida profissional?
Nas próximas duas semanas, não só no Brasil como ao redor do mundo, as aguardadas festas de encerramento estarão ocorrendo e, como de costume, servindo de picadeiro para situações de inimaginável constrangimento. O início segue a praxe: coquetéis metidos a granfino, música comportada, bufê farto e sorteio de brinde meia-boca, tudo idealizado nos mínimos detalhes para que os funcionários se sintam valorizados.
É uma boa estratégia se aproveitar da presença maciça da chefia para tratar de assuntos delicados. A química derivada da mistura entre álcool e negócios às vezes rende bons resultados, ainda mais numa festa em que os poderosos precisam aparentar simpatia e generosidade. Findado o jantar, as risadas começam a se destacar das conversas em volume cada vez mais alto nas mesas. Um pequeno grupo inaugura a pista de dança e o DJ contratado sente que é hora de fazer a festa decolar.
As luzes se apagam e passa a primeira secretária com o sapato de salto-alto na mão. Os casados olham no relógio pois sabem que esse é o sinal de partida para quem não quer se meter em confusão. A pista ferve, as bandejas de proseco circulam vazias e o clima começa verdadeiramente a esquentar. Quase ninguém ainda veste paletó; os mais animados, inclusive, já estão com as gravatas amarradas na cabeça. Daí em diante é só baixaria. Os chefes se retiram em conjunto para evitar algum escândalo, e os ratos sobem à mesa.
A foto que ilustra o post é um tanto otimista, eu sei. Mesmo a maioria das festas de empresa não terminando com todo mundo pelado presumo- o fato é que, a partir desse momento, ninguém é de ninguém. Quem ficou automaticamente se inclui no pacto de silêncio dos dias seguintes, a não ser, claro, que a fofoca seja muito boa.
O DJ solta o pancadão e na pista vale tudo: mão na bunda, patolada, trenzinho, trio Los Angeles. Os garçons se escondem e uma turma faz coro na porta da cozinha exigindo mais uísque. Começam a ocorrer as primeiras baixas, e os mais fracos para bebida dormem nas mesas com as caras enfiadas nos pratos.
A pista sucumbe ao inevitável declínio, e quem conseguiu se arrumar já está longe do salão. Restam as feias, dançando sozinhas, descalças e de olhos fechados, enquanto carecas e gordinhos estudam o bote. O pessoal da limpeza vira as cadeiras e varre o chão do lugar ao som daquela música do Gonzaguinha (”Viver, e não ter a vergonha de ser feliz….”), a festa está oficialmente encerrada. Os garçons acordam os que caíram no sono, afinal
ainda há muito trabalho pela frente, e, no dia seguinte, é preciso deixar tudo pronto para a festa da outra empresa.
Do Blog Instante Posterior
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