A capa de CartaCapital desta semana, já nas bancas em São Paulo, me obriga a pensar. Deus existe? O assunto é quente, no Brasil e no mundo. Três livros, dois de autoria de Richard Dawkins, um de Sam Harris, negam a existência do Criador e são best-sellers. O mais contundente é o mais recente de Dawkins, Deus É um Delírio.
Confesso que a questão não me tira o sono, embora tenha cursado o primário no Colégio das Marcelinas, em Gênova. Meu pai era anti-clerical, minha mãe era praticante católica e as Marcelinas foram escolhidas por serem anti-fascistas, não me vestiam de soldadinho mussoliano e não me empurravam aos sábados na direção de um evento chamado adunata, que consistia no no penoso desfile de meninos trajados como cretinos.
Fui até um bom coroinha, mas enxergava a função como espetáculo, descia os degraus do altar com os pés de Fred Astaire. A partir do ginásio, passei a me apresentar como agnóstico. Há quem confunda o agnóstico com o cético. No meu entendimento é confusão mesmo. Cético é aquele que fica de pé atrás em relação à grandeza do homem, aos sentimentos dos semelhantes. Estar preparado é tudo, dizia Shakespeare.
Agnóstico é aquele que, em matéria de crença religiosa, nem acredita nem desacredita, prefere deixar de manifestar-se sobre temas insondáveis. Creio que Immanuel Kant, quem sabe o homem mais inteligente já nascido sobre a bola de argila, fosse agnóstico, afirmava não ter condições de provar que Deus existe, ou não existe. Leio hoje, no Corriere della Será um pequeno ensaio de John Gray, magistral na minha visão. O que lhe chama a atenção é a granítica convicção, nítida em Deus É um Delírio, alimentada por Dawkins de que acreditar é um entrave à felicidade do homem.
“Segundo os evangelistas da descrença, a religião é um escombro do passado que dificulta o caminho do progresso humano”. Este gênero de pensamento, baseado na aposta em um mundo melhor porque livre de Deus é, no entanto, outra forma de fé. Você abandona uma, e adere a outra. Uns pretendem viver o drama cósmico do pecado e da redenção, os outros apresentam-se como gladiadores do progresso. Assim são todos homens de fé, ao que tudo indica insubstituível. Segundo Gray, no entanto, Dawkins e Cia. são incapazes da “dúvida criativa” que inspirou inúmeros pensadores religiosos. E os seus dogmas não são menos pétreos do que aqueles aceitos pelos crentes.
Por Mino Carta
Confesso que a questão não me tira o sono, embora tenha cursado o primário no Colégio das Marcelinas, em Gênova. Meu pai era anti-clerical, minha mãe era praticante católica e as Marcelinas foram escolhidas por serem anti-fascistas, não me vestiam de soldadinho mussoliano e não me empurravam aos sábados na direção de um evento chamado adunata, que consistia no no penoso desfile de meninos trajados como cretinos.
Fui até um bom coroinha, mas enxergava a função como espetáculo, descia os degraus do altar com os pés de Fred Astaire. A partir do ginásio, passei a me apresentar como agnóstico. Há quem confunda o agnóstico com o cético. No meu entendimento é confusão mesmo. Cético é aquele que fica de pé atrás em relação à grandeza do homem, aos sentimentos dos semelhantes. Estar preparado é tudo, dizia Shakespeare.
Agnóstico é aquele que, em matéria de crença religiosa, nem acredita nem desacredita, prefere deixar de manifestar-se sobre temas insondáveis. Creio que Immanuel Kant, quem sabe o homem mais inteligente já nascido sobre a bola de argila, fosse agnóstico, afirmava não ter condições de provar que Deus existe, ou não existe. Leio hoje, no Corriere della Será um pequeno ensaio de John Gray, magistral na minha visão. O que lhe chama a atenção é a granítica convicção, nítida em Deus É um Delírio, alimentada por Dawkins de que acreditar é um entrave à felicidade do homem.
“Segundo os evangelistas da descrença, a religião é um escombro do passado que dificulta o caminho do progresso humano”. Este gênero de pensamento, baseado na aposta em um mundo melhor porque livre de Deus é, no entanto, outra forma de fé. Você abandona uma, e adere a outra. Uns pretendem viver o drama cósmico do pecado e da redenção, os outros apresentam-se como gladiadores do progresso. Assim são todos homens de fé, ao que tudo indica insubstituível. Segundo Gray, no entanto, Dawkins e Cia. são incapazes da “dúvida criativa” que inspirou inúmeros pensadores religiosos. E os seus dogmas não são menos pétreos do que aqueles aceitos pelos crentes.
Por Mino Carta
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