Respeite como adversário quem é capaz de debochar de si mesmo, de seduzir variadas platéias com um repertório inesgotável de histórias engraçadas e de sempre deixar no interlocutor a impressão de que é mais simples e menos inteligente do que ele.
O deputado José Múcio Monteiro (PTB-PE), novo ministro das Relações Institucionais, é assim.Peça para ele contar o episódio do comício de encerramento na cidade de Petrolina de sua campanha ao governo de Pernambuco em 1986. Ele passou mal em cima do palanque pouco antes de começar a falar. “Arranje um banheiro”, suplicou a um amigo.
Havia um em uma escola próxima do local. Suando frio, pisando miudinho, ele arrastou-se até lá cercado de amigos e agentes de segurança.A porta do banheiro estava trancada. Quando um segurança a esmurrou, ouviu a voz de uma mulher: “Tem gente!”.
O segurança berrou: “Saia daí. É o governador! É o governador”.A voz perguntou alegre: “É o Dr. Arraia?”.
O agente respondeu: “Não, é o Dr. José Múcio”.E a voz, furiosa: “Vige Maria! Agora é que não saio mesmo”.
A mulher acabou saindo à força.Foi a única vez até aqui que José Múcio disputou uma eleição majoritária. E logo contra um mito - Miguel Arraes, recém-chegado do exílio, governador de Pernambuco deposto pelo golpe militar de 1964 - o Dr. "Arraia", como os mais pobres o chamavam.
Até então, José Múcio havia sido vice-prefeito e depois prefeito do minúsculo município de Rio Formoso na Zona da Mata do Estado. E secretário de Transporte, Energia e Comunicação do governo Roberto Magalhães (PFL).Para completar sua desdita, era parente de usineiros. Foi atacado por seus desafetos como o candidato dos usineiros. Pernambuco não vota em usineiro.
Aos 36 anos de idade, ele representava o passado no imaginário popular. O futuro era Arraes com 70 anos.- As pessoas só queriam saber por quantos votos eu perderia - recorda. "Era como se o Íbis, considerado o pior time do mundo, enfrentasse o Barcelona de Ronaldinho".
Perdeu por uma diferença de 500 mil. Amealhou 1.280 mil.- Devo ao Dr. Arraes meus cinco mandatos consecutivos de deputado federal. Vivo das sobras de votos daquela campanha” - admite, modesto.
Virou amigo de Arraes e do neto dele, Eduardo Campos (PSB), atual governador de Pernambuco. Foi convidado pelos dois para entrar no PSB.Saiu do PFL para o PSDB e, depois, para o PTB, onde se ligou a Roberto Jefferson.
Sem criticar o governo, foi solidário com Jefferson quando ele detonou o escândalo do mensalão.Jefferson afastou-se dele pouco antes de José Múcio assumir o cargo de líder do governo na Câmara. Mas foi o primeiro a ser avisado por José Múcio de sua nomeação para ministro. Soube quatro dias antes do anúncio oficial.
Hoje, José Múcio jantará com os senadores do PTB que proclamaram sua independência do governo. Em breve se reunirá com senadores do PSDB.-Não estou interessado em conseguir votos para aprovar a CPMF, e sim em abrir portas que se fecharam - adianta.
Conversa mole de político bom de bico.O único grande desafio que terá pela frente é evitar que vá pelo ralo a cobrança de um imposto capaz de render ao governo R$ 40 bilhões por ano.
Se vencer o desafio, só lhe restará desfrutar dos prazeres do cargo.Do Blog do Noblat
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