Por Edílson Silva*
Nas últimas semanas estudantes universitários de várias partes do país ocuparam as reitorias de suas respectivas universidades. Lutam contra o aprofundamento da lógica de mercado no tratamento das universidades federais, proposto pelo governo Lula através do REUNI.
Como já exposto em outro artigo escrito por este articulista, o REUNI segue os caminhos propostos por organismos multilaterais, como o Banco Mundial, segundo os quais o Brasil não precisa gastar recursos na produção de conhecimento, pois existem outros países em melhores condições para fazê-lo.
Os estudantes lutam, em essência, contra a transformação das universidades em grandes escolões, fabricando diplomas voltados para um mercado fictício.
Além do problema residente na essência do REUNI, há ainda a questão da democracia na comunidade universitária. Os reitores, atraídos pela cenoura colocada à frente do nariz pelo governo Lula, não estão consultando as comunidades universitárias para definir a adesão a este programa.
Então, há também a luta para que o debate democrático seja minimamente realizado, para que as comunidades se apropriem dos prós e contras contidos neste programa e possam assim decidir, através de plebiscito, a adesão ou não.
Ao optar por aderir ao REUNI em reunião esvaziada em seu gabinete, o Reitor Amaro Lins, da UFPE, expõe sua vocação anti-democrática e assume que não tem segurança de que o REUNI é o melhor para a universidade, pois se nega a debate-lo abertamente.
Portanto, trata-se de uma luta justa e o método de ocupação pacífica e organizada das reitorias é absolutamente legítimo. Apesar de pequenos equívocos, como não construir canais de diálogo com meios de comunicação, no caso da ocupação da reitoria da UFPE, em que os estudantes militantes do PSOL foram voto vencido, é inegável que esta movimentação chamou minimamente a atenção da sociedade. Não fossem as ocupações, um número ainda menor de brasileiros saberia o que é o REUNI e o que ele representa.
A saudável rebeldia dos estudantes causou uma reação das elites que se beneficiam do atual estado de coisas em nosso país. E esta elite se expressa pelos meios de comunicação de massa, pela mídia empresarial, cuja neutralidade sempre foi uma obra de ficção.
Várias matérias patéticas têm sido veiculadas por vários jornais. No entanto, nos últimos dias, um veículo de comunicação passou tanto dos limites que caiu no ridículo. A Rede Globo, através de uma de suas telenovelas, mostrou cenas de ocupação da reitoria de uma faculdade privada, que faz parte da trama assinada por Aguinaldo Silva.
Na ocupação da "reitoria da Globo", os estudantes são sujeitos manipulados e alucinados, que rasgam livros aleatoriamente. Recebem apoio de militantes sem-teto que, também alucinados, entram na reitoria quebrando tudo que vêem pela frente.
Mesmo neste cenário, a reitora caminha entre os ocupantes sem ser incomodada. O professor que apoiava a ocupação mostra-se arrependido diante das cenas de insensatez.
O líder dos estudantes, devidamente trajado com camiseta vermelha debaixo de uma jaqueta que lembra a dos militares, é um sujeito idiota que solta frases desconectadas em tom profético.
Os cartazes e as palavras de ordem gritadas pelos "baderneiros" são "contra o capital". Não há uma reivindicação imediata. Uma palhaçada.
No final da ocupação, a reitora dá o seu recado: os sem-teto têm teto sim, ou seja, são baderneiros profissionais, e Lênin (o líder genial da Revolução Russa que completou 90 anos nestes dias) não passa de uma múmia.
O líder estudantil, o tal idiota, num diálogo surreal com a reitora, não consegue superar os "argumentos" da porta voz dos interesses Globais. Nada mais direto. Um recado de classe.
O nome da reitora é bastante simbólico e adequado ao papel: Branca. Na vida real, a reitora Branca é Suzana Vieira, aquela que vive estampada nas capas de Caras, revista de conteúdo indiscutivelmente emburrecedor.
Quem acompanha as atividades dos estudantes sabe que as coisas não são assim e que a Globo fez uma caricatura de mal-gosto, intencional, com o indisfarçável objetivo de angariar antipatia popular para a justa luta dos estudantes.
Mas, vindo da Globo, não se trata de novidade. A RCTV, aquela da Venezuela, que não teve sua concessão renovada pelo democrático e legítimo governo bolivariano, atuava de forma semelhante.
A ousadia dos estudantes que ocupam as universidades incomoda as elites. Incomoda aqueles que querem impor à sociedade os limites da falsa democracia representativa, em que o poder econômico compra mandatos e submete o povo aos interesses mesquinhos de minorias e da corrupção.
Ao defenderem a universidade enquanto espaço de ensino, pesquisa e extensão, público e de qualidade, os estudantes estão indiretamente remando contra a maré que impõe ao Brasil sangrar quase 40% de seu orçamento anual em pagamentos de juros e amortizações ao sistema financeiro.
A Globo e outras mídias representam estes interesses econômicos, por isso têm interesse em ridicularizar os estudantes.
As ocupações estão cumprindo seu papel, e os estudantes conscientes de sua estratégia sabem que estas ocupações não são um fim em si mesmo, mas sim um meio de chamar a atenção da sociedade e colocar o tema na pauta sob uma ótica distinta.
Com o foco inequívoco na reversão dos aspectos negativos do REUNI, o movimento deve agora buscar penetrar fortemente nas salas de aula, ganhar a sociedade e angariar mais aliados dentro e fora dos muros das universidades.
*Presidente do PSOL/PE, escreve às sextas no Blog de Jamildo. Este artigo, no entanto, vai publicado excepcionalmente nesta segunda. Na próxima sexta, Edílson Silva retoma o espaço habitual.
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