"NOTA DA UNIDADE NA LUTA SOBRE A SUCESSÃO NO RECIFE"

0

Posted by Ciro Bezerra | Posted on segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Diante dos recentes fatos envolvendo o processo de sucessão municipal do Recife e o Partido dos Trabalhadores, nós que compomos a Unidade na Luta, tendência interna do PT, temos a declarar o que se segue:

1) A proposta de roteiro que encaminhamos ao prefeito João Paulo foi um gesto político que tinha por objetivos a construção da unidade partidária, a superação do já desgastante conflito da luta interna, a promoção de um entendimento político que permitisse a realização de um debate democrático mínimo sobre a sucessão e a escolha de um candidato em um ambiente de tranqüilidade, evitando-se, assim, a utilização das prévias, instrumento potencialmente gerador de novos conflitos;

2) A resposta dos que compõem o Campo de Esquerda Unificado (CEU) não veio na forma de uma contraproposta que permitisse a continuidade do diálogo interno sobre critérios e procedimentos, mas quase como um ultimato ao partido, na medida em que, ' ... caso haja contestação ao nome escolhido - João da Costa - , caberá à direção do PT -Recife organizar de imediato o processo de prévias';

3) Argumentou-se que nós buscávamos reduzir o 'papel do prefeito João Paulo' no processo. Tal afirmação não se sustenta, na medida em que fomos nós da Unidade na Luta (UL), ainda no ano passado, que sugerimos que o prefeito assumisse a coordenação da sua sucessão. Além do mais, no ponto 8 da nossa proposta de roteiro, deixamos claro que, após as conversas· necessárias, a última palavra na indicação do candidato seria do próprio coordenador;.

4) Apresentamos os nomes dos deputados Maurício Rands e Pedro Eugênio à discussão do partido porque o prefeito João Paulo nos afirmou que o processo aberto era para valer e que não haveria imposição de nomes. Tínhamos a expectativa de que o prefeito e o partido pudessem ser convencidos, por meio de um debate democrático, pela escolha de um nome que melhor representasse nossa base social, nossos aliados e que maior capacidade tivesse de estabelecer a disputa eleitoral junto à sociedade. Esperávamos que o coordenador da sucessão, coerente com a sua própria história, conduzisse um debate democrático e que agregasse o partido e os aliados, agindo como magistrado e não como coordenador de uma pré­candidatura. Estávamos abertos a ser convencidos de que o nome de João da Costa poderia ser o melhor, a partir de uma qualificação política do debate interno. Houvesse o prefeito dito que só havia um único resultado possível para o processo, teria nos poupado e ao partido do enorme desgaste que ora estamos sofrendo;

5) Em verdade, nunca e em momento algum os nomes que sugerimos foram levados em consideração ou tratados com a seriedade que merecem, companheiros com história de lutas em nosso estado e no Recife, parlamentares respeitados, pessoas que contribuíram fortemente para o próprio sucesso da gestão na capital;

6) A concepção que preside o posicionamento do CEU é a de que o projeto vitorioso em 2000 e 2004 é uma construção exclusiva de uma parte do PT, e que só a ela cabe decidir de que forma e por que mãos esse projeto deve continuar. Essa visão não podemos aceitar! Não foi esse o partido que construímos. Foi a liderança política. do prefeito João Paulo, mas também a força e a unidade de todo o PT e dos nossos aliados que nos deram aquelas duas vitórias históricas. O sucesso de nosso governo. Reflete a competência gerencial do prefeito; mas também a contribuição decisiva de todos os que o compõem, inclusive nós da Unidade na Luta. Garantir a continuidade do nosso projeto político é uma responsabilidade de todos. Por isso, todos querem também participar da decisão;

7) A história do PT está relacionada à própria conquista da democracia no Brasil. A democracia interna é princípio fundamental da nossa forma de fazer política. Sempre apostamos na construção coletiva de nossas decisões. Atribuir a uma pessoa ou a um grupo de pessoas, por mais representativas que sejam, decisões críticas sem um debate participativo é negar a nossa própria tradição política;

8) Nada temos contra o companheiro João da Costa. Reconhecemos suas qualidades de militante político e de gestor público, mas temos dúvidas quanto ao seu potencial eleitoral e é nosso dever dizê-lo. Como responder, por exemplo, ao fato de que, mais de um ano depois de ser lançado e apoiado pelo prefeito João Paulo, ele não recebeu qualquer manifestação entusiástica de apoio dos nossos aliados? Como explicar que o nosso mais próximo aliado no projeto Recife e histórico defensor da unidade política da esquerda, o PC do B, ao invés de se postar ao nosso lado apresenta uma candidatura própria, ainda que a ela não faltem legitimidade? No entanto, ao invés de refletirem sobre essas profundas indagações, tentam transformar a crítica leal em questionamento à liderança do prefeito. Essa, aliás, é a melhor forma de evitar o debate. O próprio documento do CEU não procura justificar a escolha de João da Costa.

9) Entendemos que vamos enfrentar uma das eleições mais difíceis da história da nossa cidade. A direita a enxerga como uma oportunidade de ouro para, em vencendo, dar importantes passos para a reconquista do governo estadual e a presidência da República em 2010. Nossa vitória é uma exigência histórica, um dever para com o povo sofrido dessa cidade que viu sua vida mudar ao longo de oito anos de governo popular e democrático, e um dever da nossa consciência política e social. É necessário lembrar que, em 2000, vencemos por uma diferença mínima, mesmo com o apoio de toda a esquerda. Talvez nossos companheiros se lembrem apenas da eleição de 2004, em que vencemos no primeiro turno. É preciso que se lembrem também que o prefeito João Paulo não é mais o candidato;

10) Precisamos montar uma grande frente política em torno de uma candidatura única. Na ausência de uma candidatura natural, precisávamos dialogar com os possíveis aliados, ouvir o que pensavam sobre as três pré-candidaturas postas, e considerar suas avaliações e sugestões e não caracterizá-Ias como 'intervenção de outras forças políticas em um debate interno';

11) Sem responder às questões que levantamos na proposta de roteiro, o CEU preferiu o caminho fácil da desqualificação. Equivocadamente, tenta vender a versão de que nós estaríamos propondo uma barganha em relação a 2010 quando o que defendemos é, sem casuísmo, o compromisso do PT em lutar pela manutenção da frente popular que sustenta João Paulo, Eduardo Campos e Lula. Queremos que o PT, desde já, comprometa-se com uma solução que contemple unicamente os partidos aliados e que resulte em um consenso amplo. Por que o CEU tem tantas dificuldades de se comprometer com uma proposta tão óbvia e simples?

12) Diante dessas considerações e com a responsabilidade que sempre tivemos na defesa do PT e do nosso projeto democrático e popular no Recife, nós da Unidade na Luta decidimos não participar de um processo de prévias que, nas atuais condições, apenas aprofundaria um conjunto de erros que conduziram o PT a uma grave divisão interna e ao risco de isolamento político junto aos nossos aliados. Mais do que ter um candidato queremos eleger um prefeito. Solucionar essa disputa interna por meio de uma prévia, seria tão somente fragilizar o candidato escolhido qualquer que fosse ele. De nossa parte, cumprimos com nossa responsabilidade de oferecer ao partido o que de melhor tínhamos a apresentar. Em todas as nossas posições sempre dissemos que a palavra final caberia ao prefeito João Paulo e essa palavra já foi dada. Coerentes com nossa trajetória política, abraçaremos a decisão que o partido venha a tomar.

Recife, 28 de janeiro de 2008

UNIDADE NA LUTA "

Comments (0)