BULLYING: UMA NOVA FACE DO MAL

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Posted by Ciro Bezerra | Posted on quarta-feira, 12 de dezembro de 2007


*Por Augusto Lessa

Não diga a seu filho para dar a outra face quando levar uma tapa de um colega, na escola, sem ter nem pra quê. Isso é bonitinho e tal, mas pode ser mortal, para quem deu ou para quem recebeu. Foi-se o tempo em que aconselhamentos bíblicos eram suficientes para resolver essas questões. Uma bofetada, uma xingamento, um apelido insistentemente repetido, uma rasteira dada no seu filho por um colega de escola não são mais meros comportamentos anti-sociais, nem fazem parte do rito de passagem no qual a agressividade do maior sobre o menor era tida com naturalidade.

Se, adultos, nos sentimos confusos e sem referências na sociedade afluente, imagine a molecada que mal saiu dos cueiros. E, pior, sem as referências – que não temos – para lhes fortalecer de alguma maneira.

Um dos meus, anos atrás, me botou no canto da parede e me perguntou:

"afinal, véio, eu só tenho 14 anos ou eu já tenho 14 anos?".

É que quando ele fazia algo que eu considerava infantil, dizia-lhe: "cara, isso não, você já tem 14 anos!". Imediatamente depois, quando ele aprontava uma que me assombrava, pela ousadia normal dos meninos, dizia: "cara, isso não, você só tem 14 anos!".

A gente não se toca. Acha que o tempo que passou por nós é tão compreensível para eles quanto é para nós? Não é. E, mais: esquecemo-nos do quanto sofremos em nossas épocas de jovens.

Será que estou passando muito a mão na cabeça deles? Claro que estou. É exatamente disso que eles estão necessitando: mãos na cabeça.

Não para serem revistados como trombadinhas, mas para acariciar-lhes os cabelos. Isso mesmo acariciar-lhes os cabelos. Parece duro demais para nós, não é mesmo? É que esquecemo-nos, também, do quanto necessitamos disso, anos atrás, e não tivemos. Não terá sido por isso que nos tornamos duros demais, secos e chatos demais?

Pois essa dureza e secura certamente ajudaram a criar o Bullying.

Não, não ser trata de uma nova modalidade de AIDS. É algo talvez tão terrível quanto ela. Não dá para traduzir muito bem essa expressão para o português, mas seria algo como o ato de um garoto espancar, humilhar, soterrar moralmente outro mais indefeso, mais frágil, pelo simples prazer de fazer isso, principalmente na escola.

Não há muita explicação psicanalítica para o Bullying, no momento. Embora uma corriola de pesquisadores esteja gastando os tubos para tentarem chegar a um acordo, de modo obscuro e cientificista demais para a obtenção de bons resultados.

O Bullying tem se espalhado como uma peste por todas as escolas de todos os recantos do mundo. Algumas múmias européias querem explicar toda a agressividade do Bullying por meio de situações socialmente desfavoráveis. O buraco é mais embaixo. Isso não tem a ver com renda per capita, alto ou baixo PIB, favelas e mocambos, coberturas duplex ou casas à beira-mar.

Nos colégios, os meninos escolhem as vitimas e mandam ver. O negócio não é só a porrada, é a humilhação, o desprezo, o jogo nazi-fascista de expor o semelhante à mais brutal agressão física ou moral. O dano é mútuo. O que espanca raramente não se torna um tirano e, pelas estatísticas, vai em cana antes dos 21. O que apanha torna-se depressivo, bulímico, anoréxico, ansioso, estressado e improdutivo. São raros os casos de confessarem aos pais ou professores o que realmente se passou. Os que assistem aos espancamentos também não deixam de sofrer os efeitos, que vão do acovardamento à deduragem indiscriminada.


Bullying é, portanto, mais do que uma briguinha de escola em que seu "bebê" se meteu, e você, muitas vezes, termina por culpá-lo, além do que já sofreu. Enquanto a cambada das teorias cientificas não chega a lugar nenhum, dê uma olhada na sua casa.

Esse mundo está confuso demais, e não tem nada a ver com aquele no qual passamos a nossa adolescência. Não vamos nos meter a entender o que não entendemos. Não vamos bancar os sabichões porque nossos cabelos embranqueceram ou as rugas chegaram. Sabemos de algumas coisas mais do que eles, é claro. E, se sabemos, por que não adocicarmos mais nossas vidas pondo algum mel na deles? Medo de quê? Ternura? Carinho? Compaixão? Ou, na verdade, estamos mais é com medo de não sabermos o que responder a eles? O famoso orgulho pela falta de resposta verdadeira?

Que tal dividirmos, juntos, essas dúvidas? Pode não ser uma cura imediata para as vítimas ou perpetradores do Bullying, mas que vai dar uma grande aliviada, vai sim. Garanto que mais doce do que receber uma porrada de um colega na escola é ter o braço de alguém a quem amamos acariciando nossos cabelos, cobrindo nossos ombros, dizendo aquilo que queremos ouvir e que, por vergonha, orgulho ou preconceito, calamos no meio da goela.


*Augusto Lessa é produtor de Rádio, Tv e crítico de literatura

Agora, colaborador do Blog.


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